quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Instituto é acusado de emitir milhares de diplomas falsos

Escola que funciona em sistema de educação a distância teria prejudicado 65 mil pessoas.


TÁSSIA DI CARVALHO

Rio - A Secretaria de Estado de Educação e a Polícia Civil estão trabalhando em conjunto para desmantelar um esquema de expedição de diplomas falsos de Ensino Médio articulado pelo Instituto Latino de Ciência e Tecnologia, com sede no bairro de Campo Grande. A fraude teria gerado uma arrecadação de pelo menos R$ 3,9 milhões e lesado até 65 mil pessoas em todo país, conforme denúncia da coluna Informe do DIA publicada no último sábado. Segundo o Conselho Estadual de Educação, o Instituto Latino, mantido pelo Sistema Objetivo de Ensino, está envolvido em uma série de irregularidades. Ele foi credenciado para oferecer cursos em 2007, exclusivamente a partir de sua sede, em Campo Grande, mesmo sem aulas presenciais. Os alunos teriam que se matricular ali, pegar as apostilas e voltar nos dias de prova. Mas esta restrição não foi cumprida, e foram criados polos em São Paulo, Minas Gerais e Manaus. Além disso, os diplomas teriam sido expedidos com assinaturas falsas de uma pessoa que nunca trabalhou na instituição.

O Conselho Estadual de Educação informou que as primeiras denúncias contra o Instituto Latino foram feitas em abril de 2009 e que, desde 2012, a organização não teria mais autorização para funcionar. Ainda assim, nos dois últimos anos, 22.145 diplomas foram expedidos, mas a estimativa é que este número possa ter chegado a 65 mil, segundo o conselho. O órgão afirma que, a escola só teria capacidade para emitir 450 diplomas por semestre.

Sueli Oliva Santos, de 50 anos, moradora de Montes Claros, em Minas Gerais, foi uma das vítimas. Ela conta que em 2012, foi a um escritório do instituto na cidade mineira que prometia o diploma do Ensino Médio sem a necessidade de aulas presenciais. “Me disseram que eu faria uma prova e eles iam corrigir e dar os documentos. Paguei R$ 600, mas nunca fiz a prova”, diz. O escritório em Montes Claros fechou e ela teve a certeza de ter sido enganada. Mas se surpreendeu quando seis meses depois recebeu seu certificado pelos Correios: “Achei estranho, porque eu não tinha feito as provas”. Sueli ficou com medo de usar o diploma para ingressar em na faculdade de Odontologia. “Isso empacou minha carreira. Agora vou fazer o Enem para ver se consigo o certificado do Ensino Médio certinho”, diz a estudante.

O Sistema Objetivo de Ensino, informou que “a escola é autorizada para funcionar”. Diz que todas as unidades de educação a distância estão com documentação atrasada. Mas, segundo o grupo, a responsabilidade por isso é do próprio Conselho de Educação. Além disso, o grupo Objetivo diz que existem cinco institutos com o mesmo nome atuando no Rio de Janeiro. “Nós só atuamos aqui no estado. Temos sede, salas de aula. Desconhecemos as denúncias de atuações em outros locais.” Segundo o grupo, “todas as escolas que oferecem educação a distância estariam sofrendo perseguição por parte do Conselho Estadual de Educação”. E que “as denúncias são uma tentativa de denegrir” a sua imagem.

Avaliações negativas na internet 
No site de reclamações Reclame Aqui, o Instituto Latino de Ciências e Tecnologia possui avaliação 100% negativa e não responde a nenhuma das reclamações de seus ex-alunos. A maioria delas, é relativa a documentos retidos. Entre 1º de agosto de 2013 e 31 de julho deste ano, o site recebeu 28 queixas, relacionadas a entregas dos diplomas e certificados de ensino médio. Outra reclamação é a falta de comunicação com a instituição.

“Em Montes Claros essa escola lesou muitos moradores, vários amigos meus caíram no golpe”, conta o professor aposentado Jadir Pereira.

SITUAÇÃO IRREGULAR

Servidores coniventes já teriam sido afastados. 
A Secretaria Estadual de Educação afirmou que confirma todas as denúncias e que a unidade está funcionando ilegalmente. Afirmou que desconhece a informação dada pelo grupo Objetivo de que haja outros institutos com o mesmo nome funcionando no Estado do Rio. Segundo uma fonte da secretaria que não quis se identificar por medo de represálias, ao menos três servidores foram afastados por terem sido coniventes em autorizações para o Instituto Latino.

Em nota a Secretaria de Educação informa que está atuando junto à Polícia Civil para elucidar o caso. Já a Polícia Civil informou que a Delegacia de Defraudações está investigando o suposto esquema.

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