sábado, 26 de julho de 2014

Corrupção: uma doença que contamina a sociedade, cada vez mais descrente

Escândalos e impunidade fazem com que poder público perca o respeito da população.


Jornal do Brasil

Historicamente, a trajetória política do país se mistura com escândalos de corrupção, farra com dinheiro público e descaso com a população carente. Notícias de falcatruas tendo como personagens autoridades e instituições públicas estão todos os dias nas manchetes dos jornais. Para quem lê e vê todos os dias os desmandos acontecerem, e sobretudo sem que os personagens sofram qualquer tipo de punição, a indignação e a falta de crença nas instituições do país são os sentimentos dominantes. Para sociólogos, a questão é histórica, onde as autoridades - e também o povo - esqueceram como diferenciar o espaço público e o privado na hora de agir, gerando uma sociedade corrupta de diversas formas, nos mais diferentes núcleos.  Os casos de corrupção, ostentação e exageros se multiplicam: helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella transportando cocaína; lagostas e champanhes compradas com dinheiro público pelo governo de Roseane Sarney enquanto presos sofrem sem a mínima dignidade nos presídios do Maranhão; Delta, Carlinhos Cachoeira e Sérgio Cabral constantemente juntos nas manchetes. O Mensalão e seus presos. O atual governador do Rio, Pezão, e suas idas e vindas constantes em helicópteros do governo. As testemunhas desses excessos são o próprio povo. Povo que muitas vezes trabalha como garçom ou cozinheiro em banquetes oferecidos nos palácios da esfera pública, regados a espumantes de R$ 100 cada, e jantares de quase R$ 200 por pessoa. Imaginem estes trabalhadores testemunhando negociatas milionárias brindadas a peso de ouro, enquanto recebem, no fim do dia, uma diária que corresponde a duas garrafas de champanhe... Que tipo de sentimento eles terão?

Para Paulo Silvino Ribeiro, professor de sociologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a corrupção e a falta de "sensibilidade moral" acontece quando se confunde as esferas públicas e privadas, coisa historicamente comum no Brasil. "As duas coisas, que deveriam ser distintas, onde aquilo que é de meu interesse é privado e o que é público é de interesse coletivo, se tornaram indistintas na nossa cultura. Hoje, entendemos melhor o privado e o publico, mas há um ranço histórico muito grande", explica. "A sociedade civil foi constituída prescindindo o Estado, ela não entendia o que era o Estado. Foi formado por uma elite branca de 10% que comandava esse estado em seu propósito, e isso foi sendo assimilado culturalmente”, completa. 

Para Marcos Otávio Bezerra, professor de sociologia e antropologia da Universidade Federal Fluminense, a formulação de falta de delimitação entre o público e privado pode ser fraca quando se pensa praticamente. “As pessoas que se apropriam dos recursos públicos sabem que estão fazendo isso. Inclusive, por serem públicos, elas acham que podem dar um outro destino, voltado para seu interesse”. Segundo ele, a corrupção dentro das instituições públicas é agravada pelo exemplo que as autoridades deveriam dar e pela total consciência do que se está sendo feito. “Essas pessoas estão ocupando funções publicas, os políticos e pessoas que ocupam posições no executivo têm a obrigação de dar o exemplo. Elas estão numa posição que trabalham em prol do publico, pelo menos deveriam. E tem essa visibilidade. As pessoas pensam ‘se eles fazem eu vou fazer também’, então é um mau exemplo. Elas estão nas posições mais altas na hierarquia brasileira e funcionam como um contraponto para o cidadão”, critica.

“Além disso, as pessoas que ocupam essas posições tiveram as melhoras oportunidades de vida, moraram bem, estudaram, tem salários adequados para a vida delas, elas, em tese, não precisariam fazer o que elas fazem. Não é por falta de informação, recursos econômicos”, completa.

Para Silvino Ribeiro, a sensibilidade para saber o que é ou não importante se perde com o poder. “Tudo está dentro de uma chave que é a da moral e da ética”, comenta. A ação de Roseane Sarney, por exemplo, em comprar lagostas quando a população pobre do Maranhão sofre com um problema crítico nos presídios, não é corrupção, mas esbarra em dilemas morais. “É uma ação que é imoral, porque não era o melhor momento de se pensar isso. Tem uma questão moral que tem que ser pensada na perspectiva de alguém que lida com aquilo que é a demanda da sociedade. Essa sensibilidade, muitas vezes, é perdida porque eles [políticos] têm um sentimento de impunidade, porque se sentem donos de tudo mesmo”, completa.

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